Archive for the ‘Literatura’ Category

Glória Feita de Sangue

26 fevereiro, 2009

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(Paths of Glory; Guerra, 87 min; 1957; EUA; Direção: Stanley Kubrick; Produção: James B. Harris; Roteiro: Stanley Kubrick, Jim Thompson e Calder Willingham, baseado em livro de Humphrey Cobb; Música: Gerald Fried; Fotografia: Georg Krause; Direção de Arte: Ludwig Reiber; Edição: Tom Finan; Elenco: Kirk Douglas, Ralph Meeker, Adolphe Menjou, George Macready, Wayne Morris, Richard Anderson, Joe Turkel, Peter Capell, Kem Dibbs, Timothy Carey, Susanne Christian)

Por Gustavo Lucas

Glória Feita de Sangue é uma adaptação do livro homônimo de Humphrey Cobb, escrito em 1935, e um dos primeiros filmes do diretor norte-americano Stanley Kubrick, que já demonstra suas habilidades técnicas e originalidade em conduzir a narrativa.

O filme conta a história de um general que, durante a Primeira Guerra Mundial, em busca de uma condecoração, ordena que seja realizado um ataque às frentes inimigas, condenado a falhar. Durante a batalha, o general ordena que atirem nos soldados que estiverem recuando, obrigando-os a continuar. Com o fracasso da operação, o alto comando acusa três soldados por covardia e os leva à corte marcial pedindo a execução dos mesmos.

A maneira pela qual Kubrick retrata a visão dos generais em relação aos seus subordinados mostra claramente uma postura anti-bélica do diretor. Vale destacar duas cenas em que este aspecto fica claro: a primeira, o general Mirneau, interpretado pelo ator George Macready, para justificar seu pedido de execução, diz que a única prova de que não houve covardia dos soldados seriam seus corpos mortos nas trincheiras; e na outra, na qual o general Broulard, vivido pelo veterano ator Adolphe Menjou, diz que soldados são como crianças e precisam de disciplina e o jeito é fuzilar alguém para atingir tal objetivo.

O ator Kirk Douglas (que assina a produção do filme através de sua produtora Bryna Productions) faz o coronel Dax que se contrapõe à decisão do general Mirneau, mas é incapaz de evitar a execução dos soldados.

O filme privilegia o enfoque realista do sistema bélico e evidencia decisões que revelam a crueza e a insensatez da guerra.

Com grande conhecimento em fotografia e iluminação, Kubrick faz o contraponto entre os oficiais do alto escalão e os soldados, presente no roteiro, visível já na composição dos quadros e os movimentos de câmera.

A composição dos quadros é simples e eficiente. Os generais circulam por ambientes amplos e bem iluminados, em que eles aparecem espalhados pelo cenário e não possuem uma sombra muito marcante. Os soldados nas trincheiras, por sua vez, vivem em lugares pequenos e escuros, como os tetos são baixos a luz geralmente corta o personagem deixando parte de seu corpo no escuro. Provavelmente foram filmados com lentes de 25mm que dão uma impressão bem mais grandiosa a lugares abertos, no caso dos pequenos parecem extremamente apertados.

Já os movimentos de câmera, dentro desta relação generais x soldados, são similares, porém diferem justamente pela composição da cena. Enquanto em ambientes abertos à panorâmica junto de um plano aberto mostram a imensidão destes lugares, nos fechados, em plano médio, aumenta ainda mais a sensação claustrofóbica, com os personagens sobrepondo-se uns aos outros. A cena que, sutilmente, mais separa os generais dos soldados está na visita do general Mireau às trincheiras. Este travelling (característica presente em todas as obras do diretor) acompanha Mireau interagindo com as suas tropas, e durante o trajeto ocorrem algumas explosões ao lado no campo de batalha, e a única pessoa presente que se abaixa para se proteger é o general.

Diferente de praticamente todos os filmes americanos desta época, “Glória Feita de Sangue” não apresenta final feliz. Ele se preocupa em mostrar como uma guerra pode criar rapidamente monstros e vítimas, que vão ficando pelo caminho. No final, quando uma jovem alemã (interpretada por Susanne Christian) é forçada a cantar para os soldados em um bar, é bem representada a fragilidade emocional que a guerra causa, quando todos param de caçoar da moça e começam a acompanhar a canção murmurando e com lágrimas nos olhos. E, do lado de fora, o coronel Dax é avisado de que seus homens foram novamente chamados para o fronte. A canção transforma-se em marcha militar. A guerra não acabara. Isto é algo que enriquece ainda mais a postura política da história.

Apesar de possuir uma filmografia relativamente pequena, Stanley Kubrick se destaca em cada um de seus projetos por buscar novas formas de se contar uma história, e é neste filme que suas marcantes características começam a ser claramente vistas.

Saawariya – Apaixonados

26 fevereiro, 2009

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(Saawariya; 2007; Índia; Musical; 137 min. Direção: Sanjay Leela Bhansali; Produção: Sanjay Leela Bhansali & SPE Films Índia Pvt. Ltd; Roteiro: Prakash Kapadia e Sanjay Leela Bhansali, baseado em Noites Brancas de Fiodor Dostoievsky; Fotografia: Ravi K. Chandran; Direção de Arte: Omung Kumar Bhandula, Vanita Omung Kumar; Edição: Sanjay Leela Bhansali; Elenco: Ranbir Kapoor, Sonam Kapoor, Salman Khan, Rani Mukherjee; Zohra Sehgal)

Por Gustavo Lucas

Bollywood cada vez mais perto do ocidente

Bollywood é o nome dado à indústria cinematográfica de Mumbai na Índia, que realiza produções faladas em hindi. Longas durações (os filmes contam até com intervalos), músicas cativantes, cenários grandiosos, coreografias que remetem a vários estilos, roteiros melodramáticos que misturam idiomas nos diálogos como inglês, urdu e alguns dialetos regionais (uma forma de atingir um público cada vez maior) são as principais características dos seus filmes.

O diretor e roteirista Sanjay Leela Bhansali, conhecido por filmes como Black (2005) e Devdas (2002), não fugiu de nenhuma destas características ao escrever Saawariya – Apaixonados. Baseado no conto Noites Brancas de Dostoiévsky, somos apresentados a Ranbir Raj (Ranbir Kapoor), um jovem sonhador e ingênuo músico recém-chegado na cidade que acaba por se apaixonar por uma misteriosa moça chamada Sakina (Sonam Kapoor), que espera o retorno de seu amado. Raj conta com o apoio da prostituta Gulabji (Rani Mukherjee) e de Lillian (Zohra Sehgal), a velha senhora que aluga o quarto onde vive.

Os grandes destaques da produção são: a fotografia e iluminação, que fazem um belo contraste de claro e escuro, assim como o uso das cores; a direção de arte e cenografia, toda realizada em estúdio. A qualidade e o detalhe dos cenários são surpreendentes.

Os principais problemas da produção, para quem está tendo um primeiro contato com os filmes desta indústria, são a duração e o grande número de apresentações musicais, pois a história pode ser facilmente contada nos habituais 90 minutos do cinema ocidental, sem ser interrompida de 10 em 10 minutos para um número musical.

Mesmo com algumas características que diferem do cinema ocidental, os filmes de Bollywood estão sendo cada vez mais aceitos no ocidente, o que acaba atraindo cada vez mais capital, inclusive estrangeiro. Saawariya, por exemplo, é o primeiro filme co-produzido por um grande estúdio de Hollywood, a Columbia Pictures. Já existem produções que contam com parte de sua filmagem realizada em outros países como Estados Unidos, Canadá e, até mesmo, o Brasil.